Mas pode ter certeza que as empresas que contratam “CLT estável” têm profissionais favoritos em vista.

Estamos em 2022, e a realidade Brasil mudou desde os vídeos e artigos de 2020 ou 2021 sobre o tema.
A “onda” da vez, salvo obviamente as exceções, está assim:
- Empresa de maior porte oferece basicamente vagas CLT, a preferência óbvia dos candidatos brasileiros, e com mais benefícios ou melhores salários a cada dia.
- Empresa de pequeno porte, oferece vagas PJ. Não confundir com B2B, digo emprego por contratação PJ mesmo, após a reforma trabalhista isso ficou legalizado e não mais uma burla como antes.
As pequenas não têm orçamento ou estrutura pra bancar contratações CLT, então oferecem a outra e única opção, são a já conhecidas vagas informando “contratação pj” na descrição (quando informam). Mas como são pequenas, os salários são também menores. Se a média salarial por CLT em empresa grande é 4 mil pra júnior, na pequena vai ser isso ou até menos, mas como PJ, jogando o líquido final mais pra baixo.
O que ocorre é: as vagas em empresas grandes estão quase todas aceitando somente pessoal com experiência, o que na prática virou “PL/SR” (pleno/sênior), porque na crise o pessoal já chama júnior de novato também. Antes desse cenário aquecido, júnior era com pouca experiência, menos de 1 ou 2 anos. Hoje a coisa tá mais acelerada… com 6 meses a 1 ano não chamam mais de júnior, já estão chamando é de pleno. Digo “quase” porque como citei no começo, existem exceções.
Agora me responda: quem, em um cenário de “gap” no setor, com tremenda escassez de mão de obra, em 2022, com perfil pleno/sênior, está desempregado? Não tem. Se estiver, é por opção.
Isso pode ser traduzido facilmente assim: empresa maior, que oferece CLT, salário melhor e benefícios, quer plenos e sêniores que, via de regra, já estão trabalhando. O pessoal que já trabalha e tem um bom perfil, mesmo que pleno, recebe centenas de mensagens inbox no Linkedin com recrutadores, ou “head hunters” assediando pra ir pra outra empresa. Porque os contratantes desses recrutadores pedem pra eles encontrarem alguém com “experiência”, e obviamente eles não vão encontrar esse perfil dando sopa sem emprego por aí, terminando por tentar convence-los a trocar de cadeira.
Os novatos, como acredito ser a maioria nesse programa aqui, ficam com outras opções, como abrir um CNPJ e trabalhar por contrato PJ para empresa pequena e conseguir a tão solicitada XP (de fato e de currículo), conseguir um belo Q.I., que seria indicação de alguém de dentro de alguma empresa, mas aí tem que estar mesmo apto à vaga pra não queimar a indicação, ou… BOOTCAMPS, programas de formação, patrocinados por empresas grandes para recrutar e treinar novatos.
Claro que nesses bootcamps aparece gente que já tem bem mais conhecimento na área que outros, que terminam por pegar as primeiras colocações, mas pelo menos é uma forma bem mais justa e eficiente, em minha opinião, de injetar novato no mercado. Porque ficar contratando só gente que já trabalha, fazer eles ficarem saltando de empresa em empresa, não melhora em nada a deficiência de profissional de t.i. no país. Talvez até piora, porque os melhores profissionais dessas empresas estão tudo de olho em vagas no exterior pra receber em moeda mais forte. Aí piora ainda mais o cenário doméstico, com fuga de cérebros.
Tem que oxigenar o mercado com novatos. Não falta gente com vontade e capacidade. Programas de formação como esse aqui, deveriam começar a surgir aos montes. O setor precisa olhar melhor para os iniciantes e investir tempo e dinheiro treinando gente. De que adianta a galera fazer cursos e faculdades, se as vagas abrirem só pra quem já está trabalhando?
Mesmo com os contras, na minha opinião o melhor caminho em uma visão mais ampla, de setor e país mesmo, é programas de formação com contratação. Pra aumentar o número de profisisonais e aliviar o gap, em um país que está mais pra exportar talentos do que importar, a única forma é contratando novatos.
Por outro lado, não posso dizer que as empresas estão errando totalmente, porque quando vemos contratantes de TECNOLOGIA dando igual ou até mais atenção a “habilidades comportamentais”, dá pra sentir que temos profundos problemas culturais a resolver. Não é incomum pessoal mentir, burlar entrevistas, fazer corpo mole no trabalho, driblar jornadas, enrolar, prejudicar clima nas equipes, não ter compromisso com a tarefa nem com o cargo, etc. E isso sabemos, está em qualquer setor. E quando não existe a tal “fila de candidatos” em setor carente de profissionais, fica ainda mais complicado lidar com esses comportamentos. Daí não deve ser fácil selecionar pessoal mesmo.
Mas isso não muda o fato de precisar alimentar com gente nova. Na minha opinião, o que precisa melhorar bastante são os formatos de contratação, seleção, avaliação e treinamento. Pra pelo menos diminuir os problemas.
Sobre focar na carreira, infelizmente não tem receita de bolo mesmo. E nem ajuda tentar correr. Se você gosta de tecnologia em geral, qualquer uma deveria agradar, e deveria estar com aptidão a mudar o tempo todo se preciso, porque esse é o contexto do século, não mais aprender uma coisa e trabalhar só com ela pra sempre.
Essa dispersão de 5 milhões de linguagens / bibliotecas / frameworks / ferramentas a escolher é pra quem não está em um cargo, em uma equipe. Observa o Brinkedin lá… quem está “open to work” geralmente lista uma dúzia de techs e duas dúzias de conhecimentos, e não necessariamente domina todos. Quem está em um cargo e já trabalhando na área, lista umas 3 com as quais trabalha e só. Afinal, não precisa “ser encontrado” em pesquisas de recrutadores com palavras-chave, certo? Quando você está trabalhando vai naturalmente conseguir fluência em um conjunto de techs, não vai ficar usando 5 milhões de opções. E quando mudar, vai estar mudando de time ou a empresa vai trocar de tech. Dependendo da maturidade da empresa, você vai ter equipes específicas, vai ter times temáticos, vai ter sprints bem organizadas, esteiras de produção, mentorias, níveis e perfis com diversidade, etc.
O desespero é mesmo quando você está assim: adora tecnologia, ainda não trabalha na área, deu uma geral em várias, mas não atende todos os requisitos de vaga alguma, mesmo se tiver consciência de que se daria bem em qualquer delas, com a devida oportunidade, se te derem tempo pra se adaptar. É que não tem como a empresa saber disso, dados os problemas que citei, e nem todas estão preparadas pra treinar novatos.
Sobre o Javascript, seu universo é uma selva mesmo. Tem até piada sobre isso, algo tipo “a cada minuto, um novo framework Javascript é lançado”
Inclusive a maioria, seguindo o estilo da própria linguagem, é un-opinionated, ou seja, você pode usar de inúmeras formas possíveis, sem um padrão restrito de uso. O que deixa o dev com mais liberdade, mas ainda mais tonto quando vai aprender, porque cada artigo, guia, tutorial, vídeo, vai mostar de um jeito diferente.
Se você for pro lado do Java por exemplo, não vai encontrar esse mesmo mar de opções aí, e encontra mais facilmente os padrões restritos de uso.
Mas não dá pra ter pressa. Se for experimentar tecnologias diferentes, é aos poucos. Se já gostar de cara de algum caminho, não vai ficar bom rápido.
Existem alguns conjuntos de requisitos que quase todos pedem. Dê uma passeada nas vagas oferecidas, veja os requisitos. Diversos deles são comuns, ou estão na maioria dos anúncios. Alguns você vai precisar ter uma noção, outros vai precisar conhecer melhor ao ponto de construir projetos e passar em possíveis testes técnicos de seleção. Faça uma “playlist” de assuntos pra estudar/aprimorar. Isso vai te deixar com melhor preparação não só para programas de recrutamento, mas para vagas avulsas também. Dá mais confiança pra dizer numa entrevista: “Olha, eu consigo produzir com as tecnologias A e B, e conheço um pouco de C, mas ainda não trabalho com D, tenho uma curva de aprendizado aí, mas posso entregar em algumas semanas.”
Embora seja uma área em tese toda exata, objetiva, quando se trata de pessoas, acaba dando lugar a um oceano de subjetividade, por isso não há receita de bolo.

Edit:
Aqui uma pesquisa interessante sobre esse mercado de trabalho:
E aqui o G1 tem publicado alguns artigos mais no estilo de imprensa mesmo, mas também ajuda: